Os filmes favoritos de Quentin Tarantino do século XXI foram revelados, e fez isso da maneira mais Tarantino possível: escolhendo unicamente pelo que ficou gravado na memória dele, sem consultar nada, sem buscar consenso e sem qualquer preocupação em seguir o gosto geral da crítica.
Durante sua participação no podcast de Bret Easton Ellis, o diretor revelou o ranking completo, limitado a um filme por cineasta, e recheado de comentários sinceros, hilários e, claro, afiadíssimos.
A lista já vinha causando estranhamento desde a primeira metade revelada na semana anterior, mas o top 10 trouxe um equilíbrio curioso entre clássicos modernos e produções pouco comentadas, tudo filtrado pelo olhar irreverente de Tarantino.
Como Ellis observa, existe um padrão ali: filmes com personalidade forte, diversão sem culpa e um espírito de irreverência que quase nunca aparece no mainstream.
Tarantino concorda e diz que o critério principal é simples: se ele não lembrava do filme de cabeça, então não merecia entrar. Para ele, o mais importante é o impacto, a sensação, a agressividade criativa.
Na liderança, Ridley Scott surge com Black Hawk Down. Não é exatamente uma escolha comum para “melhor filme do século”, mas Tarantino deixou claro que revisitar o longa reavivou sua força.
Para ele, o filme atinge algo próximo de Apocalypse Now em intensidade, mantendo o ritmo sem folga por quase três horas. Na visão do diretor, é uma das maiores conquistas da carreira de Scott, e ter essa validação deve reacender a curiosidade de muita gente.
Logo abaixo vêm escolhas que mostram a variedade do gosto tarantinesco: Toy Story 3 aparece como um fechamento de trilogia praticamente perfeito; Encontros e Desencontros surge acompanhado da confissão de que o filme fez Tarantino se apaixonar por Sofia Coppola; Dunkirk, que ele inicialmente não gostou, agora é visto como uma obra-prima que exige revisitas; Sangue Negro só não seria top 2 por causa do que ele chama de “problema Paul Dano”, com direito a um ataque nada sutil ao ator.
A lista segue com elogios a Zodíaco, descrito como um filme que cresce a cada revisão; o vigor final de Tony Scott em Unstoppable; a genialidade frenética de Mad Max: Estrada da Fúria; a estreia matadora de Edgar Wright em Shaun of the Dead; e a surpresa pessoal de descobrir Owen Wilson em Meia-Noite em Paris.
A parte mais polêmica vem nos números 11 a 20, com Tarantino atacando Jogos Vorazes por ter “copiado” Battle Royale, declarando Jackass o filme mais engraçado das últimas décadas, e afirmando ter gargalhado durante A Paixão de Cristo graças ao nível de violência, algo que até Mel Gibson achou estranho ouvir.
Entre outras escolhas, ele elogia a brutalidade estilizada de Rob Zombie, a pancadaria impressionante de Chocolate, o carisma absoluto de Brad Pitt em Moneyball e até o fôlego renovado de Spielberg em West Side Story.
O resultado é um retrato perfeito do próprio Tarantino: um cineasta que ama cinema visceral, que valoriza estilo, energia e impacto acima de qualquer consenso crítico. Concordar com a lista é opcional; se divertir com ela é inevitável.
Confira a lista completa abaixo.
Os 20 filmes favoritos de Quentin Tarantino (deste século)
1. Black Hawk Down [Falcão Negro em Perigo] (Ridley Scott)

“Eu gostei quando vi pela primeira vez, mas acho que era tão intenso que acabou não funcionando totalmente para mim, e eu não carreguei o filme comigo do jeito que deveria. Desde então, vi mais algumas vezes, não muitas, mas hoje acho que é uma obra-prima. E uma das coisas que mais amo nele é que este é o único filme que realmente vai fundo naquela sensação de propósito, efeito visual e atmosfera de Apocalypse Now, e acho que ele alcança isso. Mantém a intensidade por 2 horas e 45 minutos, ou o que quer que seja, e quando assisti de novo recentemente, meu coração ficou acelerado o filme inteiro; ele me pegou e não me soltou, e fazia tempo que eu não via. A façanha de direção é extraordinária.”
2. Toy Story 3 (Lee Unkrich)

“Aqueles últimos cinco minutos arrancaram meu coração à força, e se eu tentar descrever o final, começo a chorar e fico engasgado. É simplesmente impressionante. É quase um filme perfeito. E isso sem nem falar das partes cômicas, que são infinitas. Acho que ninguém nunca acerta o terceiro filme de uma trilogia. Para mim, o outro exemplo é Três Homens em Conflito, e este é o Três Homens em Conflito dos filmes animados. É o maior final de trilogia que existe.”
3. Lost in Translation [Encontros e Desencontros] (Sofia Coppola)

“Eu me apaixonei tanto por Encontros e Desencontros que acabei me apaixonando pela Sofia Coppola e tornando ela minha namorada [risos]. Eu a cortejei e conquistei, tudo às claras; parecia algo saído de um romance da Jane Austen. Eu não a conhecia bem o suficiente para me aproximar naturalmente, então ficava indo a eventos. Conversei com o Pedro Almodóvar sobre isso, e nós dois concordamos que era um filme super feminino, de um jeito delicioso. Fazia muito tempo que eu não via um filme tão feminino, muito menos um tão bem feito.”
4. Dunkirk (Christopher Nolan)

“Outro filme de que eu não gostei inicialmente. O que amo nele agora é a sensação de maestria absoluta, algo que percebi revendo, e revendo, e revendo. Da primeira vez, não é que achei ruim — era tudo tão impressionante que eu nem sabia o que tinha visto, era quase demais. Aí na segunda vez, minha mente conseguiu absorver um pouco mais, e na terceira e na quarta, foi só: uau, isso é absurdo.”
5. There Will Be Blood [Sangue Negro] (Paul Thomas Anderson)

“Daniel Day-Lewis. A qualidade artesanal à moda antiga do filme. Ele tem um artesanato de Hollywood clássico sem tentar imitá-lo. Era o único filme do PTA que não tinha um grande set piece. O incêndio é o mais perto disso. O foco todo era a narrativa, a história, e ele fez isso brilhantemente. Sangue Negro teria grandes chances de ser o número 1 ou 2 se não tivesse um defeito enorme… e esse defeito é o Paul Dano. Obviamente deveria ser um duelo entre dois protagonistas, mas é evidente que não é. O Dano é fraquíssimo, cara. Ele é o elo fraco. O Austin Butler seria maravilhoso nesse papel. Ele é um cara tão fraco, tão sem graça. O ator mais fraco do SAG [risos].”
6. Zodiac [Zodíaco] (David Fincher)

“Quando vi Zodíaco pela primeira vez, não achei grande coisa. Aí começou a passar nos canais de filmes, e quando percebi, já estava vendo 20 minutos, 40 minutos, e notei que era muito mais envolvente do que eu lembrava, e sempre me fisgava em trechos diferentes. Então decidi ver essa droga de novo, e foi uma experiência completamente nova dali em diante. Descobri que, a cada seis ou sete anos, eu revisito o filme, e é sempre uma experiência luxuosa de se entregar a ele… uma obra-prima hipnotizante.”
7. Unstoppable [Incontrolável] (Tony Scott)

“É um dos meus filmes finais favoritos de um diretor. Vi quatro vezes, e cada vez gosto mais. Anos atrás, eu teria colocado Chamas da Vingança na lista, mas Incontrolável é uma das visões mais puras da estética de ação do Tony Scott. Os dois protagonistas são ótimos juntos, e o filme só melhora. É um dos melhores filmes de monstro do século XXI. O trem é um monstro. Ele se torna um monstro. E vira um dos maiores monstros do nosso tempo. Mais forte que o Godzilla, mais forte que os King Kong recentes.”
8. Mad Max: Fury Road [Mad Max: Estrada da Fúria] (George Miller)

“Eu na verdade não ia ver, pelo simples motivo de que num mundo onde Mel Gibson existe, e ele não está interpretando o Max? Eu quero o Mad Mel! Semanas e semanas passaram e as pessoas continuavam dizendo o quanto era incrível, e o Fred, meu editor, dizia: ‘Sério, você precisa ver.’ Aí eu vi. O que é bom ali é tão bom, e você está vendo um cineasta verdadeiramente grandioso; ele teve todo o dinheiro do mundo e todo o tempo do mundo para fazer exatamente o que queria.”
9. Shaun of the Dead [Todo Mundo Quase Morto] (Edgar Wright)

“Meu primeiro filme favorito de um diretor, mesmo que ele já tivesse feito um filme baratinho antes, que ele não gosta de mencionar. Eu adorei o quanto ele ama o universo do Romero que ele recria. O roteiro é excelente, um dos mais citáveis dessa lista — eu ainda cito ‘os cachorros não olham para cima’. Não é uma paródia de filmes de zumbi, é um filme de zumbi de verdade, e eu valorizo essa diferença.”
10. Midnight in Paris [Meia-noite em Paris] (Woody Allen)

“Eu realmente não suporto o Owen Wilson. Na primeira vez que vi o filme, eu amei e odiei ao mesmo tempo por causa dele. Na segunda vez, pensei: ‘ok, não seja babaca, ele não é tão ruim’. Na terceira vez, percebi que estava assistindo só para ver ele.”
11. Battle Royale (Kinji Fukasaku)

“Eu não entendo como o escritor japonês não processou a Suzanne Collins por tudo o que ela tem. Eles simplesmente copiaram o livro inteiro. Os críticos literários idiotas não vão assistir a um filme japonês chamado Battle Royale, então nunca cobraram dela — diziam que era a coisa mais original que já tinham lido. Quando os críticos de cinema viram, foi ‘que porra é essa, isso aqui é Battle Royale versão PG!’”
12. Big Bad Wolves [Os Lobos Maus] (Aharon Keshales, Navot Papushado)

“Tem um roteiro fantástico e uma trama parecida com Os Suspeitos. Eles tratam isso com coragem — você sabe que o cinema americano não faria isso.”
13. Jackass: The Movie (Jeff Tremaine)

“Foi o filme com o qual mais ri nos últimos 20 anos. Não lembro de rir do começo ao fim assim desde Richard Pryor. Quando eu estava fazendo Kill Bill, achei isso tão engraçado que precisei mostrar para a equipe. Então arrumamos uma cópia, assistimos, e morremos de rir.”
14. The School of Rock [Escola do Rock] (Richard Linklater)

“Foi uma experiência muito divertida no cinema. Uma sessão realmente divertida. Acho que esse filme teve a explosão do Jack Black combinada com o Rick Linklater e o Mike White — isso deixou tudo especial. É o mais perto que chegamos de The Bad News Bears.”
15. The Passion of the Christ [A Paixão de Cristo] (Mel Gibson)

“Eu ria muito durante o filme. Não porque estávamos tentando ser perversos, rindo de Jesus sendo espancado — violência extrema simplesmente é engraçada para mim — e quando você vai tão longe no extremo, só fica mais engraçado. A gente gemia e ria de como aquilo era absurdo. O Mel fez um trabalho de direção tremendo. Ele me colocou naquela época. Falei isso para ele e ele me olhou como se eu fosse louco.”
16. The Devil’s Rejects [Rejeitados pelo Diabo] (Rob Zombie)

“Aquela mistura de Peckinpah, caubói e Família Manson — essa voz não existia antes dele, e ele a refinou neste filme. Peckinpah não fazia parte do terror antes disso. Ele misturou com hillbillies insanos, e isso virou uma estética. Agora você reconhece de longe, mas antes não existia.”
17. Chocolate (Prachya Pinkaew)

“Provavelmente é um filme que você nunca ouviu falar. Pessoas levando porrada das formas mais espetaculares. Treinaram essa garota de 12 anos por quatro anos para estrelar o filme. São algumas das melhores cenas de kung-fu que já vi.”
18. Moneyball [O Homem que Mudou o Jogo] (Bennett Miller)

“A atuação do Brad Pitt é uma das minhas favoritas de uma estrela nos últimos 20 anos — aquele tipo de papel em que uma estrela aparece para lembrar por que é uma estrela e carrega o filme nos ombros.”
19. Cabin Fever [Cabana do Inferno] (Eli Roth)

“Tem algo muito cativante. O senso de humor do Eli, o senso de gore — funciona muito bem. As pessoas se esquecem do quão tenso o começo é porque o final é genuinamente engraçado. O Albergue pode ser o melhor filme dele, mas este é o meu favorito.”
20. West Side Story [Amor, Sublime Amor] (Steven Spielberg)

“É o filme em que o Steven mostra que ainda tem tudo. Não acho que o Scorsese tenha feito algo tão empolgante neste século. Isso revitalizou ele. Não consegui acreditar que gostei do protagonista [Ansel Elgort], porque eu não tinha gostado dele em mais nada.”
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