A internet continua dando conta de transmissões em 4K, jogos em nuvem e o apetite voraz da inteligência artificial por dados, mas a infraestrutura atual já começa a sentir o peso. Para aliviar essa pressão, o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicação do Japão (NICT) acaba de bater um recorde impressionante: uma transmissão de dados a 1,02 petabit por segundo ao longo de 1.808 quilômetros, o equivalente a ligar Nova York a Minneapolis, ou Berlim a Lisboa. Em termos simples, isso significa que seria possível baixar todo o catálogo da Netflix em apenas um segundo.
A base dessa façanha são os cabos de fibra óptica, há décadas os verdadeiros carregadores de piano da internet, que enviam dados na forma de luz por minúsculos filamentos de vidro. Mas enquanto a maioria das fibras tradicionais usa apenas um núcleo, como uma estrada de pista única, o NICT, em parceria com a Sumitomo Electric Industries, desenvolveu uma fibra com 19 núcleos. Cada um desses núcleos funciona de forma independente, carregando sua própria corrente de dados sem interferência entre si, criando uma espécie de superestrada digital.

Mais impressionante ainda: essa nova fibra de 19 núcleos tem o mesmo diâmetro externo das fibras convencionais, 0,125 milímetro, o que significa que ela pode ser instalada nas infraestruturas já existentes, sem necessidade de reconfigurações drásticas. A mágica está na capacidade de manter o sinal estável em diferentes faixas de comprimento de onda, do espectro O (1.260 a 1.360 nm) até o U (1.625 a 1.675 nm), permitindo que os dados cruzem quase 2.000 km sem degradação.
Mas o que exatamente são 1,02 petabit por segundo? Estamos falando de um trilhão de bits por segundo, ou 125 mil gigabytes, o suficiente para transmitir 10 milhões de vídeos em 8K simultaneamente. É o tipo de velocidade que poderia sustentar frotas inteiras de carros autônomos, centros de dados de inteligência artificial e realidade virtual para cidades inteiras sem engasgos. O feito também rendeu outro marco: um produto de capacidade por distância de 1,86 exabits por segundo x quilômetro, o maior já registrado.

Nada disso foi simples. A perda de sinal e a interferência entre os núcleos poderiam ter inviabilizado tudo, mas a equipe desenvolveu um sistema de amplificação óptica que reforça os sinais dos 19 núcleos sem distorções. Eles também usaram uma técnica de modulação chamada 256-QAM com polarização dupla, que aumenta a quantidade de informações transmitidas em cada pulso de luz, um empurrão essencial para alcançar esse nível de eficiência.
Esse avanço chega em boa hora. Com o crescimento acelerado da demanda por dados, impulsionado por IA, realidade virtual e as futuras redes 6G, os cabos de núcleo único já estão se aproximando do seu limite, operando entre 100 e 300 terabits por segundo. A nova fibra de 19 núcleos representa um salto de quase dez vezes nesse desempenho, apontando o caminho para a internet do futuro. O NICT já vinha quebrando barreiras: em 2022, transmitiu 1,02 petabit por 51,7 km, e em 2023, chegou a 1,7 petabits por 67 km. Mas agora, com essa distância real de 1.808 km, o recado é claro: a tecnologia está pronta para sair do laboratório e cruzar continentes.
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