A inteligência artificial está deixando de ser uma curiosidade no mundo da música para se tornar uma presença constante nas paradas da Billboard. Segundo a própria revista, ao menos um artista criado ou auxiliado por IA tem aparecido nos rankings a cada semana, nas últimas quatro semanas consecutivas, um sinal claro de que a tendência está ganhando velocidade.
Entre os nomes que vêm ocupando espaço nas listas está Xania Monet, um avatar virtual criado pela compositora Telisha “Nikki” Jones, do Mississippi, por meio do gerador musical Suno. Outro é Juno Skye, desenvolvido pelo produtor Nguyen Duc Nam como um “artista movido por IA”. Ambos simbolizam o avanço de um novo tipo de produção musical, em que as máquinas começam a dividir o palco com humanos e, às vezes, até a substituí-los.
O sucesso de Xania Monet chamou tanta atenção que gerou uma verdadeira disputa entre gravadoras, com ofertas que chegaram a 3 milhões de dólares. A personagem digital estreou oficialmente nas paradas de rádio da Billboard após conquistar um volume expressivo de reproduções e já havia aparecido anteriormente em outras listas com o single “Let Go, Let God.”
Mas esse fenômeno vem acompanhado de uma forte controvérsia. Aplicativos como Suno e Udio, usados para gerar músicas via IA, enfrentam acusações de utilizar obras protegidas por direitos autorais em seus modelos de treinamento. Mesmo assim, as grandes gravadoras não parecem dispostas a frear o movimento. A Universal Music Group, por exemplo, anunciou nesta semana um acordo de licenciamento com o Udio para lançar uma nova plataforma de criação musical baseada em IA, após encerrar uma disputa judicial sobre direitos autorais.
No ano passado, centenas de músicos assinaram uma carta aberta pedindo que empresas parem de usar inteligência artificial para “violar e desvalorizar os direitos dos artistas humanos”. Ainda assim, serviços de streaming como o Spotify continuam sendo inundados por faixas criadas por algoritmos. A plataforma chegou a anunciar novas medidas para combater “spam, falsificação e engano”, mas evitou proibir totalmente o uso da tecnologia, argumentando que a música “sempre foi moldada pela tecnologia” e que a IA, em seu melhor uso, pode “libertar novas formas de criação e descoberta musical.”
Enquanto a polêmica continua, o público parece cada vez menos preocupado com a origem das músicas. Let Go, Let God, o hit de Xania Monet sobre fé e entrega ao destino, já ultrapassou 1,3 milhão de visualizações no YouTube, e a maioria dos comentários trata a faixa como se fosse obra de um artista humano. “Obrigado, Senhor, por esta mensagem”, escreveu um usuário. “Preciso que me cure por dentro.”
Seja amada ou temida, a revolução da música feita por inteligência artificial já começou e, ao que tudo indica, está longe de sair das paradas.
Veja mais sobre música.




