A vida a bordo da estação espacial chinesa Tiangong acaba de ficar bem mais saborosa. No último dia 31 de outubro, a cápsula Shenzhou-21 levou não só três novos astronautas chineses para o posto orbital, mas também um forno de ar quente de cerca de 14 quilos que está mudando a rotina das refeições no espaço. Apenas quatro dias depois da entrega, o ambiente metálico da estação já tinha ganhado um novo aroma: o de um churrasco flutuante.
O responsável pela façanha foi Wu Fei, engenheiro de voo e ex-piloto de testes, que agora virou o primeiro “chef espacial” da China. Com luvas acolchoadas, ele prendeu seis asas de frango marinadas em uma pequena grelha dobrável e colocou tudo dentro do forno compacto preso à parede do módulo principal da Tiangong. O aparelho, que parece um micro-ondas futurista, assa os alimentos a cerca de 190 graus Celsius, com ventiladores internos que fazem o ar circular em alta velocidade, simulando a convecção que, na Terra, depende da gravidade. Em menos de meia hora, o jantar estava pronto: asas douradas e crocantes, sem fumaça, sem sujeira e, claro, sem gravidade.
Enquanto isso, o comandante Chen Dong, da missão anterior Shenzhou-20, esperava a nova tripulação com outro prato no forno: cubos de bife com pimenta-preta. As duas equipes tiveram cinco dias de convivência antes da troca oficial, e resolveram celebrar esse momento de transição da melhor forma possível, com uma boa refeição feita no espaço.

Até então, os astronautas chineses se alimentavam de pacotes de comida pré-cozida e desidratada, muitas vezes espremendo o conteúdo com canudos para não deixar o alimento flutuar. Nutricionalmente eficiente, mas nada empolgante. O novo forno muda tudo. Ele permite cozinhar carnes, peixes, legumes e até sobremesas, a partir de ingredientes crus embalados a vácuo, que pesam metade do que as versões prontas. Isso significa mais variedade, menos peso e uma refeição que finalmente se parece com “comida de verdade”.
O segredo do forno espacial está em seu sistema de ventilação e filtragem. Dois potentes ventiladores fazem o ar circular, enquanto um filtro de carvão e HEPA captura qualquer resíduo de gordura antes que ele possa afetar o sistema de purificação da estação. O resultado é um ambiente limpo, seguro e surpreendentemente perfumado. Quando Wu Fei abriu a porta do forno, as asas douradas estavam perfeitamente cozidas, e o som crocante do primeiro mordisco foi transmitido pelo intercomunicador para todo o módulo.

Os testes com o forno ainda estão em andamento, com previsão de 500 ciclos de uso, o suficiente para quatro tripulações inteiras. O painel do equipamento traz opções curiosas como “batata-doce” e “torta de ovo”, além de dois botões misteriosos marcados com pontos de interrogação, sugerindo que novas receitas espaciais já estão sendo planejadas.
Seja como for, o feito marca um novo passo para a vida cotidiana fora da Terra. A estação Tiangong, que já simboliza o avanço da China na exploração espacial, agora também é palco de um marco mais simples, porém igualmente humano: a arte de cozinhar, e saborear, uma boa refeição, mesmo a 400 quilômetros de altura.
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