Nos últimos anos, escolas brasileiras vêm testando uma medida que antes parecia impensável: proibir o uso de celulares durante as aulas. A decisão, adotada em redes estaduais e municipais de várias partes do país, está provocando uma mudança curiosa no comportamento dos estudantes. Onde antes reinava o silêncio das telas, agora o som é outro o das conversas, risadas e trocas entre colegas.

A iniciativa, inspirada em políticas já aplicadas em países como os Estados Unidos e a França, busca diminuir a distração e o isolamento causados pelo uso excessivo de smartphones. E os efeitos começam a aparecer. Em São Paulo, por exemplo, escolas que adotaram a medida relatam que os intervalos ficaram mais animados e que os alunos voltaram a interagir de forma espontânea.
“Antes, o pátio era um silêncio só, cada um com a cabeça enfiada no celular. Agora, a gente conversa, joga, até briga um pouco mais”, brinca Mariana Oliveira, estudante do 2º ano do ensino médio em uma escola da capital. Segundo ela, a proibição foi estranha no começo, mas acabou aproximando os colegas. “No início, achei que seria horrível, mas é mais divertido conversar de verdade.”
Professores também percebem uma melhora na atenção e no engajamento em sala. Uma pesquisa recente feita por secretarias de educação apontou que a maioria dos docentes apoia a restrição, afirmando que o rendimento dos alunos aumentou e que o ambiente escolar se tornou mais participativo. “A gente nota mais olhos voltados para a aula e menos distrações. Os estudantes parecem mais presentes de corpo e alma”, comenta o professor de história Ricardo Mota, da rede estadual do Rio de Janeiro.
Mas a mudança não é unânime. Muitos pais questionam a decisão, preocupados com a comunicação em casos de emergência. Já entre os alunos, há quem veja o banimento como uma falta de confiança. “Parece que não acreditam que a gente sabe se controlar”, diz Lucas Mendes, de 16 anos, estudante em Belo Horizonte.
Mesmo com as resistências, há sinais de que a vida escolar está ganhando novas cores. Bilhetes voltaram a circular entre carteiras, jogos de tabuleiro reapareceram nos intervalos e até as câmeras instantâneas ganharam espaço entre os adolescentes. “A gente quer registrar os momentos de um jeito diferente. Tenho várias Polaroids dos meus amigos coladas no armário”, conta Mariana.
Enquanto o debate segue, uma coisa é certa: o silêncio artificial criado pelos celulares está sendo substituído por vozes reais, com toda a bagunça, energia e humanidade que fazem parte da vida escolar. E, para muita gente, isso é um som bem-vindo.




