Como um grande fã de jogos de escolha, fiquei em luto quando a Telltale Games fechou suas portas em 2018. Felizmente a história não acabou aí e o destino sorriu para os fãs e a empresa que não só retornou, mas também a AdHoc Studios foi formada após a dissolução. Chega Dispatch para mudar isso e nos trazer uma nova aventura de narrativa, cheia de surpresas.
Seu primeiro projeto está finalmente entre nós, uma aventura que na gameplay misturou parte da antiga jogabilidade da Telltale com a de jogos como 911 Operator. E sua história que em sua essência é uma série de comédia, mas ainda captando o desenvolvimento pessoal e coletivo que o gênero de super-heróis tipicamente apresenta. Vamos descobrir se a Adhoc começou sua trajetória com o pé direito!
Menos drama e subversão, mais humor sem perder o coração.
Jogamos com Robert Robertson (Stan Lee gostou disso) o terceiro a herdar o manto de Mecha Man, um super-herói sem poderes que protege a cidade de Los Angeles de ameaças. Após uma tentativa de vingança fracassada contra o homem que matou seu pai, perde seu traje e fica abeira da ruína financeira. O destino sorri para nosso herói que possui a chance de reconstruir seu traje trabalhando como um atendente de emergências para super-heróis.
Assim como muitas séries animadas da atualidade, a história é contada em 8 episódios. A narrativa episódica de fato começa após uma introdução razoavelmente longa, e então as situações mais familiares de histórias de escritório preenchem maior parte do enredo. Grandes lutas, vilões poderosos e discursos inspirados estão presentes, mas o escopo da narrativa nunca é perdido, do início ao fim é uma história minimalista sobre as inseguranças de múltiplos personagens construído com muito humor numa narrativa singela, por vezes reconfortante. Muito por conta da trilha sonora synthwave que cria um manto fantástico sobre a cidade e os personagens, e as músicas licenciadas ajudam na criação da familiaridade em meio a tanta excentricidade.
Os momentos de silêncio foram os que mais me agradaram. A direção e roteiro sabem exatamente o momento em que as imagens precisam “falar” mais do que os personagens e cada ângulo de câmera foi cuidadosamente bem pensado em todos os momentos. Você encontra um novo wallpaper a cada 3 minutos de tão bem composta são as cenas em Dispatch.

Inspiração de um local inusitado e um marketing inteligente
Apesar de parecer que a ambientação foi inspirada por séries como The Office, na verdade, se originou dos comerciais de esportes da ESPN no início da década passada. Reimaginaram a peculiaridade que era as interações levadas a sério de atletas e mascotes em um escritório, para dentro do mundo de super-herói com seus visuais e habilidades únicas. Até mesmo a escolha de grande parte do elenco de vozes reflete essa ideia de uma naturalidade inusitada. Boa parte dos personagens são dublados por streamers, youtubers e algumas figuras relativamente famosas no YouTube que não possuem real experiencia em dublagem.
Isso me preocupou um pouco antes de jogar, mas rapidamente se mostrou um acerto e a perspicácia da produção, que, ao mesmo tempo que conseguiu integrar bem as vozes por conta dos visuais surreais e comportamentos excêntricos de seus personagens, o elenco de voz serviu como propaganda para o jogo, já que os influencers, com sua visibilidade, deram a chance de Dispatch brilhar além de seu nicho. Isto evidenciado pelos números da steam que dobravam a cada novo episodio liberado.

As escolhas e a jogabilidade
Na média dos jogos da Telltale, basicamente estamos em uma estrada com muitas opções de parada, porém com gasolina limitada. Está longe de algo como Detroit Become Human, mas o controle da personalidade do nosso protagonista ainda se mantém alta. Como não podemos caminhar livremente nos cenários como em muitos dos jogos anteriores, a sensação de estar em trilhos se faz um pouco presente, mas aí que a jogabilidade como um dispatcher entra.
São centenas de casos únicos para serem resolvidos de diferentes maneiras, e somando com as sinergias entre heróis para serem descobertas, mini games funcionando como quebra-cabeças e algumas de nossas escolhas impactando a presença ou não de heróis durante turnos, faz o fator replay de Dispatch satisfatório.

Conclusão
Respondendo à pergunta que fiz no começo desta análise, a Adhoc não começou com o pé direito, mas sim chutando a porta. Visuais, animações e trabalhos de vozes que rivalizam com grandes séries animadas da modernidade e um roteiro digno de prêmio. Uma jogabilidade que inova dentro desse gênero e deve satisfazer o desejo de muitos que reclamavam da falta de inovação entre os muitos lançamentos da antiga Telltale Games.
Mesmo fora de IPs licenciadas, o brilho do roteiro continua forte como sempre. O objetivo agora não é tanto mais a subversão de expectativas, e sim uma história minimalista sobre conhecer e valorizar as pessoas a seu redor, tudo isso recheado de humor sem filtro algum.
Pessoalmente, não me emocionei ou fiquei realmente surpreso com os eventos da história, o que aconteceu em praticamente todos os jogos anteriores escritos e dirigidos pelas mesmas pessoas. Porém, minhas expectativas eram altíssimas, e mesmo não sendo superadas, foram correspondidas.
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Nota Final 4,5/5
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