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entre a fantasia e o manifesto

Em plena semana de estreia de Wicked: Parte 2, o Nerdizmo revisitou o lançamento da Darkside Books, de uma das obras mais politicamente carregadas da literatura fantástica contemporânea. Escrita por Gregory Maguire, a edição da editora possui capa dura e um tratamento impecável, num formato de luxo e com brindes exclusivos.

Wicked

Publicado originalmente em 1995, o romance que inspirou o musical da Broadway e os dois filmes estrelados por Cynthia Erivo e Ariana Grande vai muito além do entretenimento, e não se limita ao universo colorido de Oz. Maguire transforma o conto da “Bruxa Má do Oeste” em uma poderosa alegoria política e social, questionando os limites entre bondade e maldade, vítima e vilã, e principalmente, entre o indivíduo e a ordem dominante.​​

Wicked difere radicalmente do filme clássico e do famoso musical: enquanto estes suavizam questões políticas e sociais, o livro abraça uma atmosfera adulta, distópica e por vezes cruel, abordando temas como preconceito, intolerância religiosa, manipulação midiática e a corrupção dos sistemas de poder. Dividido em cinco partes, a obra acompanha Elphaba desde o nascimento marcado pela diferença, com sua pele verde, rejeitada pelos pais, e vítima de escárnio, até a militância radical pela justiça em Oz. Sua trajetória revela, mais do que a busca pela origem do mal, o olhar incompreendido sobre quem ousa desafiar normas preconcebidas da sociedade.

Wicked

A protagonista, Elphaba, representa todo aquilo que é “diferente”: incompreendida, marginalizada e discriminada, não por suas ações, mas por ser diferente. Sua força, coragem e resistência frente ao desprezo alheio tecem uma crítica contundente à indiferença social, à manipulação de reputações e à facilidade com que um indivíduo pode ser transformado em um monstro, não por seus atos, mas pela narrativa imposta pelos que detêm o poder.​​

A potência de Wicked reside em seu discurso sobre identidade, poder e resistência. Maguire utiliza sua obra para mostrar que, em uma sociedade autoritária como a de Oz, vilões não nascem, eles são construídos por um sistema que precisa de antagonistas para perpetuar sua ordem. Nesse contexto, Elphaba desafia a naturalização do preconceito e do controle da narrativa ao se recusar a compactuar com injustiças, tornando-se alvo de uma campanha de vilanização, que reflete as estratégias que vemos em nosso dia a dia com exemplos reais de exclusão e marginalização de corpos que desafiam padrões, normas ou convenções sociais opressivas, racializados ou não conformes.​

Wicked

Wicked é também um convite à empatia e à reflexão sobre a alteridade. O autor destaca que a principal questão da obra não é ser sobre a origem do mal, mas evidenciar o quanto o mal pode surgir do estigma e da incompreensão. Para Maguire, a história de Elphaba fala diretamente a quem se sente diferente, deslocado ou oprimido, seja por motivos raciais, de gênero, crença ou qualquer outra razão.​

O sucesso global de Wicked não reside apenas em sua fantasia de qualidade, mas na capacidade de questionar verdades e provocar um olhar crítico sobre o papel do indivíduo diante das dinâmicas de exclusão social. O livro incentiva cada leitor a repensar quem são os verdadeiros vilões, se aqueles que desafiam o sistema ou aqueles que o mantêm intacto.​

Wicked

Wicked é, portanto, muito mais que um entretenimento, trata-se de um manifesto sobre o poder das narrativas, a necessidade de justiça social e a beleza invisível da diferença. Elphaba, com sua pele verde e seus ideais impassíveis, não é apenas uma bruxa, mas também o símbolo da resistência frente à ordem vigente, o corpo que desafia, e a pergunta incômoda que nunca deixa o sistema em paz.​​

Fagner Lopes

CEO Presidente e fundador da Obewise Entertainment Network, escritor, biomédico e amante de jogos eletronicos, mais precisamente DOTA 2. Redator do site e artista na Obewise Radio Network.

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