A indústria do entretenimento ainda tenta entender o impacto do plano ousado da Netflix de adquirir a Warner Bros. Discovery por impressionantes US$ 82,7 bilhões. No papel, parece um movimento histórico, quase um “checkmate” no jogo dos streamings, mas especialistas internacionais já estão levantando bandeiras vermelhas sobre o que pode dar errado nessa fusão. E, sinceramente, quem teme ver a Netflix engolir um estúdio tão tradicional quanto a Warner tem bons motivos para isso.
O alerta mais contundente veio rapidamente de François Godard, analista da Enders Analysis, que não economizou na franqueza ao olhar para o futuro de marcas como HBO sob a sombra da Netflix.
Para ele, a fusão entre Warner e Discovery já tinha destruído valor antes, e há um risco real de a história se repetir. Godard foi direto: HBO sobreviveu a Zaslav, mas será que resiste à Netflix? Para muitos fãs, essa é exatamente a grande preocupação, a perda de identidade de um dos maiores berços de conteúdo de prestígio do planeta.
Outros analistas são menos pessimistas. Guy Bisson, da Ampere Analysis, disse que a compra é enorme, mas longe de ser inesperada. Para ele, o discurso recente de Ted Sarandos já mostrava que a WBD era alvo prioritário.
Bisson lembra que a Netflix vem se transformando, pouco a pouco, em um estúdio verticalizado, e a avalanche de propriedades intelectuais da Warner é um atalho que levaria décadas para construir.
O problema é que juntar culturas tão diferentes pode ser um desafio maior que qualquer biblioteca de conteúdo.
Jack Davison, da 3Vision, reforçou que a confusão nos bastidores será grande. A Netflix sempre tratou cinema como algo secundário, enquanto a Warner ainda aposta forte em estreias nas telonas.
O choque entre essas duas visões deve bagunçar acordos existentes, estratégias de distribuição e contratos ao redor do mundo.
Ele questiona até que ponto tudo acabará preso somente na Netflix e deixou claro que muitas empresas agora estão tentando entender o rumo de suas próprias plataformas após essa bomba cair no setor.
A Netflix promete manter as operações da Warner como estão, mas é difícil imaginar que tudo fique intacto depois de um movimento desse tamanho.
Há até quem aposte que a HBO Max pode ser vendida para outra gigante, e o nome da Comcast aparece com frequência nesses cenários.
Se isso acontecesse, seria a chance deles finalmente conseguirem o alcance global que perseguem há anos.
O momento da negociação também deixa tudo ainda mais embaralhado. A HBO Max está em plena expansão internacional, com estreias previstas em países como Alemanha, Itália e Reino Unido em 2026.
Há produções novas sendo anunciadas, como A Knight of the Seven Kingdoms, mas se a compra se concretiza, o serviço poderia nem chegar a ver a luz do dia nesses territórios.
Um Netflix + HBO Max somando cerca de 450 milhões de assinantes acenderia alertas antitruste instantaneamente, e encerrar o serviço seria o caminho mais fácil para evitar isso.
Outro complicador é que a Netflix não está comprando tudo. Canais lineares como TNT e Eurosport ficam de fora, presos em um braço da Discovery que ficará à deriva após a separação prevista para 2026.
Sem o apoio de uma plataforma robusta, o futuro desses canais parece frágil, e Godard acredita que eles poderão acabar nas mãos de outros grupos, incluindo possíveis movimentos da Paramount ou de emissoras europeias.
No fim das contas, o que a Netflix tenta vender como expansão natural parece, na prática, um rearranjo caótico que pode espalhar fragmentos da Warner por vários donos diferentes.
A alma criativa da HBO está em risco, os cinemas e parceiros de distribuição encaram turbulências e parte do catálogo da Discovery pode ser repaginado ou desaparecer.
Se este é o próximo capítulo na guerra do streaming, ele certamente não chega com a tranquilidade que a Netflix tenta passar. Para quem ama boas histórias, esse roteiro está longe de garantir um final feliz.
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