Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, desenvolveram uma camada ultrafina de material capaz de transformar simples robôs macios em verdadeiros exploradores de espaços apertados. Inspirados em videiras e serpentes, esses chamados vine robots conseguem rastejar, se alongar e se contorcer por passagens minúsculas, alcançando locais que seriam impossíveis para máquinas convencionais.
Esses robôs têm tamanho reduzido, variando de 3 a 7 milímetros de diâmetro e cerca de 25 centímetros de comprimento, e se movem por um método curioso: eles “crescem” ao virar sua camada externa do avesso pela frente, como se alguém estivesse vestindo uma meia. Esse mecanismo evita que o corpo se prenda às paredes e reduz o desgaste do material, permitindo um deslocamento suave mesmo em trajetos complexos. Até então, versões anteriores conseguiam apenas se esticar em linha reta, sem flexibilidade suficiente para dobrar em curvas.
A grande inovação está nos atuadores embutidos na “pele” do robô, feitos de elastômeros de cristal líquido, um material extremamente resistente e flexível. Dispostos estrategicamente ao redor do corpo, esses atuadores se contraem quando aquecidos, puxando um lado do robô e permitindo que ele dobre ou mude de direção. O calor é gerado por fios condutores flexíveis que passam pequenas correntes elétricas, ativando o movimento com precisão. Várias dessas unidades trabalham em conjunto, coordenadas para fazer o robô inclinar-se para qualquer lado conforme o comando.
Além disso, o robô usa pressão de ar interna para se movimentar. Quando o ar é bombeado para dentro, ele se alonga; quando a pressão diminui, o corpo fica maleável, facilitando curvas e giros. A combinação desses dois sistemas, o aquecimento controlado e o ar comprimido, permitiu aos engenheiros alcançar um controle muito mais rápido e eficiente dos movimentos, algo que até então era difícil de conseguir com materiais tão flexíveis.
Os testes mostraram resultados impressionantes. Em um deles, os cientistas enviaram o robô por dentro de um modelo transparente da aorta humana, simulando o trajeto do sangue. O robô conseguiu torcer mais de 100 graus por segundo e se enfiar em ramificações minúsculas sem travar, chegando até a regiões com metade do próprio diâmetro. Com uma microcâmera instalada na ponta, as imagens captadas eram tão nítidas que revelavam detalhes invisíveis a equipamentos tradicionais.
Em outro experimento, ele foi colocado dentro de uma réplica de motor a jato, um ambiente cheio de tubos, turbinas e frestas estreitas. O objetivo era localizar rachaduras e acúmulos de sujeira, defeitos que poderiam causar falhas reais em aeronaves. Graças à flexibilidade e à precisão do robô, a inspeção pôde ser feita sem desmontar nada, economizando tempo e reduzindo riscos.
Atualmente, esses robôs têm espessura semelhante à de um grafite de lápis, mas os pesquisadores acreditam que poderão reduzi-los a menos de um milímetro. O próximo passo é dar a eles maior autonomia, permitindo que se movam sem fios e com sensores próprios para análise e comunicação. O projeto, que conta com apoio do National Institutes of Health e da Beckman Foundation, abre caminho para aplicações que vão da medicina à exploração industrial, mostrando que, às vezes, os maiores avanços vêm de máquinas minúsculas que rastejam onde ninguém mais consegue chegar.
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