A presença dos chatbots de inteligência artificial na rotina das pessoas já ultrapassou o campo da curiosidade tecnológica e começou a afetar relações reais, inclusive casamentos que estão desmoronando por causa de envolvimentos emocionais com IAs.
O fenômeno, que há pouco tempo parecia ficção científica, agora aparece como motivo de separação em escritórios de advocacia, segundo um levantamento divulgado pela Wired.
Especialistas em direito de família relatam que surgiram casos de parceiros que mantêm conversas íntimas com assistentes virtuais, gastam dinheiro com serviços ligados a esses bots e até compartilham dados pessoais sensíveis, como informações bancárias e documentos.
Para muitos cônjuges, isso já configura traição, ainda que o “terceiro na relação” não seja humano.
A advogada Rebecca Palmer explica que os tribunais ainda não têm respostas objetivas, já que nem mesmo os casos de infidelidade entre pessoas recebem decisões uniformes.
Mesmo assim, alguns clientes de seu escritório já deram entrada em divórcios motivados exclusivamente por envolvimento com IA.
O cenário fica ainda mais complicado em estados norte-americanos onde o adultério é crime, como Michigan, Wisconsin e Oklahoma.
Nessas regiões, a discussão sobre se um relacionamento com uma IA pode ser considerado infidelidade ganha peso jurídico real, com possibilidade de multas e até penas de prisão.
Em disputas pela guarda de filhos, a situação também preocupa juízes, que avaliam se o comportamento do pai ou mãe indica falta de discernimento, especialmente quando a pessoa passa longas horas em conversas íntimas com um chatbot em vez de dedicar atenção à criança.
Advogados apontam que essa tendência deve crescer. Elizabeth Yang, especialista em direito de família na Califórnia, acredita que o avanço das Ias, cada vez mais empáticas, fluidas e “atenciosas”, atrairá indivíduos que já se sentem sozinhos ou frustrados em seus relacionamentos.
Segundo ela, assim como houve um aumento de separações durante a pandemia, é provável que vejamos outro pico impulsionado por vínculos emocionais criados com bots. No Reino Unido, dados da Divorce-Online mostram que a ligação afetiva com inteligências artificiais já aparece com mais frequência como razão para o fim de um casamento.
Enquanto especialistas tentam entender o que isso significa para o futuro das relações humanas, alguns legisladores já se movimentam.
Em Ohio, há uma tentativa de deixar claro que IAs não são entidades com personalidade jurídica e, portanto, não podem participar de uniões matrimoniais.
É um gesto que tenta antecipar debates ainda maiores, em um momento em que as fronteiras entre tecnologia e intimidade ficam cada vez mais nebulosas.
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