Talvez os apostadores mais novos não tenham vivenciado esta era, mas alguns anos atrás era possível testar uma plataforma de apostas esportivas ou cassino online utilizando apenas um bônus de boas-vindas totalmente gratuito, sem a necessidade de sequer cadastrar um método de pagamento.
É claro que isso não durou muito. Esta ação de marketing foi considerada predatória pelas autoridades brasileiras e passou a ser regulamentada com as novas leis. Entenda neste artigo como os bônus grátis sem depósito tiveram que se adaptar à regulamentação brasileira do setor de iGaming.
A Era do Faroeste Selvagem
Se analisarmos o setor de jogos de azar por períodos, a primeira delas podemos chamar de Era do Faroeste Selvagem, e começou logo após a descriminalização através da Medida Provisória promulgada por Michel Temer em 2016.
Após quase 80 anos na ilegalidade, o mercado brasileiro passava a se abrir novamente para o setor de apostas. Diante de um mercado em alta, com mais de 200 milhões de pessoas, as marcas que já existiam fora do Brasil e os empresários brasileiros começaram a se organizar.
Em termos competitivos, as empresas internacionais estavam em vantagem, visto que já possuíam conhecimento de práticas que funcionam ao redor do mundo, tinham a estrutura das plataformas pronta e bastava tentar a sorte em um novo mercado. Já os brasileiros, totalmente em desvantagem, tinham maior conhecimento da cultura local e conexões regionais.
Esse cenário fez com que empresas locais sofressem, inicialmente, para competir com gigantes internacionais da Europa. Ao mobilizarem grandes capitais para operar no Brasil, elas foram as primeiras a mobilizar grande parte do público brasileiro e ter ótimos retornos em um mercado até então desregulamentado.
Nesse período, a oferta de marcas e plataformas disponíveis no mercado era imensa e inversamente proporcional à qualidade dos serviços oferecidos. Havia uma clara desconexão entre o modo de funcionamento dessas empresas e a realidade do brasileiro médio.
Era brasileira
Se este era o panorama durante os primeiros anos, o início da pandemia foi marcado pela transição da predominância de marcas internacionais para empresas brasileiras e também pela regionalização dos serviços antes exclusivamente estrangeiros.
Como esforço para aumentar a capilaridade com o público brasileiro, diversas empresas passaram a investir em publicidade de massa, como a compra de patrocínios máster, compra de naming rights de competições nacionais importantes e também a criação de escritórios em cidades estratégicas do Brasil.
Enquanto isso, as empresas brasileiras começavam a ter o conhecimento, experiência e estrutura para contra-atacar.
Com jogadas inteligentes, como aproveitar a onda de fenômenos nacionais (uso do Pix, trazer jogos de cassino que dialogavam melhor com os gostos do público brasileiro e investir em comunicações mais eficazes para se conectar com o público), inúmeras marcas começaram a se destacar e atrair novos usuários.
Nesse período, o caos parecia mais controlado quando comparado à Era do Faroeste Selvagem, mas havia um novo desafio. Com o número elevado de novos usuários, volume de transações financeiras e aumento da presença desses serviços no Brasil, um sinal de alerta surgiu nas autoridades brasileiras.
Buscando entender melhor a situação e seus impactos na sociedade brasileira, o governo decidiu que era hora de agir.
Era da Regulamentação
Nesse período, os bônus grátis sem depósito passam a ser regulamentados, mas a história não começa por aí. Entretanto, é possível afirmar que ainda estamos vivendo este momento.
Com a sucessão de poder federal para o atual presidente Lula, o poder legislativo passou a discutir a elaboração de um corpo de leis que regulamentasse a operação do setor de apostas em todo o país, buscando fechar a torneira de dinheiro que saía do Brasil e também amenizar o impacto na sociedade.
Inicialmente, o governo optou por discutir a legitimidade dos cassinos e casas de apostas esportivas que atuavam no Brasil por meio de licenças internacionais. Para resolver essa situação, optaram por seguir os passos de Portugal e criar uma licença nacional que priorizava as empresas brasileiras. Custando cerca de 30 milhões de reais e necessitando passar por diversos crivos técnicos, tornou-se uma barreira contra o número desproporcional de empresas com péssimo serviço atuando no país.
Em segundo momento, passou a tornar obrigatória a implementação de tecnologias e dispositivos de segurança, tornando o acesso limitado apenas a adultos e pessoas que não se enquadravam como afetadas pelo vício em jogos de azar.
Por fim, passou a se dedicar ao modo como essas empresas se promoviam para a sociedade brasileira.
É de conhecimento público que a maior ação publicitária dos cassinos online no Brasil se dava por meio da oferta de promoções exclusivas, como bônus de boas-vindas e depósitos baixos para jogadores que tinham curiosidade em conhecer esses serviços.
O governo do Brasil optou por proibir totalmente ações desse tipo que ofereciam qualquer vantagem econômica ou financeira para novos usuários sem que antes eles investissem qualquer valor de forma antecipada. Dessa forma, os bônus oferecidos sem a necessidade de um depósito passaram a ser proibidos.
Hoje, para testar um cassino online no Brasil, é necessário que se realize um depósito inicial, utilizando, por exemplo, o Pix, e só então é possível receber ofertas que não requerem qualquer investimento.
Isso fez com que os novos usuários não fossem atraídos por ofertas predatórias, eliminando a percepção errônea de que as plataformas de apostas são benfeitoras, enquanto são empresas de entretenimento. Em linhas gerais, isso torna o mercado e seus usuários muito mais maduros. O setor está avançando rapidamente com os desenvolvimentos em IA, portanto, é provável que vejamos novos avanços na próxima década, criando um ambiente de jogo cada vez mais justo e seguro.




