Beeple voltou a chamar atenção na Art Basel Miami Beach, desta vez com uma instalação que parece saída de um pesadelo tecnológico com senso de humor ácido. Robôs com rosto de bilionários.
O artista, cujo nome real é Mike Winkelmann, levou ao evento um grupo de cães robóticos batizados de Regular Animals, que passeiam por um cercado como se fossem mascotes de luxo, mas com um propósito muito mais provocador.
Cada um dos oito robôs exibe uma cabeça de silicone extremamente realista moldada a partir de figuras que definem a era digital e cultural, como Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Pablo Picasso, Andy Warhol e até dois autorretratos do próprio Beeple.
Esses cães não ficam parados. Eles circulam pelo espaço, observam o público e de tempos em tempos levantam a pata para expelir pequenos rolos de papel que funcionam como certificados de autenticidade.
Esses papéis incluem QR codes que levam a NFTs, enquanto telas embutidas na traseira dos robôs anunciam, sem cerimônia, que entraram em “poop mode”. O escultor Landon Meier colaborou na criação das cabeças, que exibem cada detalhe expressivo com precisão quase desconfortável.
Musk aparece com seu olhar concentrado de sempre, Bezos parece calcular entregas em meio ao caos, e Zuckerberg exibe aquela expressão eterna de quem está preso em um feed infinito. Picasso e Warhol completam o elenco com olhares que lembram suas próprias obras, alternando estranhamento e frieza.
Cada robô custa cem mil dólares e faz parte de uma edição de apenas duas unidades, além de uma prova de artista.
Quase todos foram vendidos logo na prévia VIP do dia 4 de dezembro. A única exceção é o cão de Bezos, mantido fora do mercado propositalmente, o que reforça sua posição central na crítica embutida na obra.
Os robôs se movimentam com articulações animatrônicas, deslizando pelo chão como um bando de cães curiosos. Estações de recarga ficam à disposição, porque até robôs “bilionários” precisam descansar.
O público se aproxima com celulares em punho, enquanto os cães tiram fotos e absorvem o ambiente através de câmeras internas. As imagens são então reinterpretadas por um sistema de IA que aplica estilos visuais inspirados na trajetória de cada figura.
Warhol devolve o mundo em cores vibrantes e padrões repetitivos, enquanto os três magnatas da tecnologia geram resultados mais frios e funcionais: Musk em traços monocromáticos, Zuckerberg em grades virtuais, e Bezos como redes operacionais gigantescas.
Algumas dessas impressões ainda carregam uma descrição hilária de “100% puro cocô de cachorro orgânico e sem OGM”, acompanhada de um código que libera um NFT válido por três anos.
Beeple criou a instalação como uma forma de refletir sobre como poucas pessoas, e empresas, moldam o cotidiano de bilhões. Musk e Zuckerberg comandam os algoritmos que filtram nossa visão de mundo, Bezos reconfigura a forma como consumimos e trabalhamos, e artistas como Picasso e Warhol influenciaram gerações inteiras com novas formas de enxergar a cultura.
No fim, os cães robóticos sintetizam essa transição de poder, onde a arte, a tecnologia e o comportamento social se misturam de forma tão absurda quanto inevitável, transformando até o “produto final” dos robôs em parte da narrativa.
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