A ideia de que vivemos em uma simulação, popularizada por Matrix, há muito tempo desperta a curiosidade de filósofos, cientistas e entusiastas da ficção científica. Desde que o filósofo Nick Bostrom publicou, em 2003, seu famoso ensaio sugerindo que uma civilização suficientemente avançada poderia criar universos simulados e, por pura probabilidade, nós estaríamos dentro de um deles, o debate ganhou proporções quase míticas. Personalidades como Elon Musk e Neil deGrasse Tyson já se mostraram intrigadas com a hipótese. Mas um novo estudo vem para desafiar essa teoria de uma vez por todas.

Pesquisadores liderados por Mir Faizal, professor da Universidade de British Columbia Okanagan, publicaram um artigo no Journal of Holography Applications in Physics afirmando ter demonstrado, por meio de fundamentos matemáticos, que o universo simplesmente não pode ser simulado. De acordo com Faizal e sua equipe, a realidade possui aspectos que não podem ser reduzidos a algoritmos ou seja, não há computador capaz de reproduzir sua essência.
“Tem sido sugerido que o universo poderia ser uma simulação”, declarou Faizal. “Se isso fosse possível, o universo simulado poderia, por sua vez, criar outro, e assim sucessivamente. Essa recursividade tornaria extremamente improvável que estivéssemos no universo original.” Ainda assim, ele destaca que essa discussão, antes tida como filosófica e inalcançável pela ciência, agora pode ser abordada de forma concreta.
O estudo se apoia em conceitos como o “reino platônico”, uma dimensão teórica de informação pura, onde estariam as formas ideais da realidade. Segundo os pesquisadores, esse plano não pode ser completamente descrito por meios computacionais, pois envolve uma compreensão “não algorítmica”, que não segue uma sequência lógica de passos como um programa de computador.
A equipe utilizou os teoremas da incompletude de Kurt Gödel, que demonstram que todo sistema matemático coerente contém verdades que não podem ser provadas dentro dele. Aplicando esse princípio, os cientistas concluíram que nenhuma teoria física baseada apenas em computação pode descrever a totalidade do universo. “É impossível representar todos os aspectos da realidade física usando uma teoria computacional da gravidade quântica”, explicou Faizal. “Portanto, não há uma teoria completa e consistente de tudo que possa surgir apenas da computação.”
Em outras palavras, o universo não poderia e nunca poderá, ser uma simulação. Isso porque uma simulação é, por natureza, algo algorítmico, enquanto a realidade, segundo Faizal, é sustentada por algo mais profundo: um tipo de compreensão que transcende o próprio espaço e tempo. O físico teórico Lawrence Krauss, coautor do estudo, acrescenta que as leis fundamentais da física não estão contidas dentro do espaço-tempo, mas são justamente o que as gera. “Esperava-se que uma teoria fundamental de tudo pudesse descrever todos os fenômenos físicos por meio de cálculos baseados nessas leis”, disse Krauss. “Mas demonstramos que isso é impossível.”
A pesquisa reacende um dos debates mais fascinantes da ciência moderna e ao que tudo indica, coloca um ponto final na eterna pergunta de Matrix: não existe pílula vermelha ou azul, apenas a realidade que não pode ser simulada.
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