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a maturidade do Mundo Digital

Oito anos separam Cyber Sleuth e Digimon Story Time Stranger, e parece tempo suficiente para que a Media Vision e a Bandai Namco repensassem o que significa “crescer” junto com os monstros digitais.

Desde o primeiro trailer, Time Stranger se apresentou como um RPG mais emocional, com uma narrativa que mistura ficção científica, drama humano e a familiar sensação de mistério que define a série desde os anos 2000. Agora que ele finalmente chegou, é possível dizer que o novo jogo da saga Digimon Story é ambicioso, belo e um tanto imperfeito, mas é o tipo de imperfeição que apenas um projeto apaixonado consegue ter.

Um salto no tempo, outro na emoção

O ponto de partida do enredo é um acidente em Shinjuku, uma explosão de magnitude apocalíptica que deixa marcas no tempo. A partir daí, o jogador assume o papel de um agente da organização ADAMAS enviado ao passado para evitar o evento conhecido como “Inferno de Shinjuku”.

Digimon Story Time Stranger

A trama alterna períodos e perspectivas, construindo uma narrativa em camadas que tenta equilibrar mistério e emoção. Mesmo com uma estrutura previsível em certos momentos e longas sequências de exposição, há algo cativante em presenciar esse colapso temporal, sobretudo pela relação entre os personagens.

Inori e Aegiomon são o coração do jogo. A forma como o roteiro trabalha o elo entre os dois retoma aquela promessa antiga de que Digimon é, antes de tudo, uma história sobre vínculos. A dualidade entre humanidade e digitalidade aparece tanto nos diálogos quanto na mecânica de evolução, e é nas pequenas trocas que o jogo mais brilha. Outras figuras, como Hiroko Sagisaka, a streamer que atravessa mundos, e Kosuke, o pai ausente, ajudam a reforçar o tema central: ninguém cresce sozinho, nem mesmo em um mundo binário de zeros e uns.

Digimon Story Time Stranger

No entanto, essa densidade narrativa vem a um custo: o ritmo inicial é lento, quase exaustivo. Leva boas dez horas até que a trama engrene, e as primeiras masmorras de Iliad, o novo Mundo Digital, alternam entre design criativo e ambientes que lembram os corredores vazios de Cyber Sleuth. As missões secundárias, apesar de várias, raramente fogem do formato “recuperar e entregar”. Felizmente, o que mantém o jogador preso é a satisfação de ver seu time de Digimon evoluir, tanto em poder quanto em personalidade.

O sistema de combate permanece fiel ao modelo de turnos com três Digimon ativos e três reservas. O clássico triângulo de atributos (Vírus, Dados e Vacina) continua a base, mas agora há onze elementos adicionando novas camadas de estratégia. É um equilíbrio entre o conforto da familiaridade e a emoção da descoberta. A ferramenta Digi Attack, que permite atacar inimigos no ambiente antes do combate, torna as batalhas mais dinâmicas e ajuda a quebrar a repetição de encontros.

Digimon Story Time Stranger

Time Stranger também apresenta uma reformulação estrutural importante: os Digimon agora possuem “Personalidades” e “Elos”. Essa combinação redefine o modo como se forma um time, já que a afinidade entre criaturas aumenta atributos e influencia diretamente o processo de evolução. Há um prazer quase viciante em testar combinações, procurar o ponto exato em que o vínculo entre treinador e criatura gera uma transformação poderosa. É a essência da série, de cooperação, aprendizado e crescimento, transportada para o gameplay de forma palpável.

A nova era para Digimon Story

Visualmente, o salto técnico é perceptível. Cada um dos mais de 450 Digimon recebeu um modelo 3D recriado do zero. As animações são detalhadas e o brilho visual das batalhas impressiona tanto quanto o design dos monstros, que continua entre os mais criativos do gênero. Iliad é um mundo que mistura o urbano e o digital com elegância, oscilando entre atmosferas futuristas e paisagens de fantasia. Mesmo que algumas áreas ainda pareçam espaços lineares disfarçados, há uma sensação de mundo vivo difícil de ignorar.

Digimon Story Time Stranger

A trilha sonora, assinada novamente por Masafumi Takada, acompanha com precisão o tom do jogo. Há temas que soam como memórias distantes do primeiro Digimon Adventure, enquanto outros trazem um peso cinematográfico raro para o gênero. Não é perfeita, com algumas faixas de exploração bem genéricas, mas há alma o suficiente para marcar presença na experiência emocional que Time Stranger busca oferecer.

No fim das contas, Digimon Story Time Stranger é um retorno de fôlego. É denso, lento, mas profundamente autoral. Para quem acompanha a franquia desde os tempos do PS1, o jogo é um presente e uma celebração da jornada de quem cresceu ao lado dos monstros digitais. Agora encontramos uma história que fala mais sobre o tempo, a perda e o recomeço do que simplesmente sobre batalhas.

Digimon Story Time Stranger

Para os recém-chegados, pode parecer um RPG complexo e irregular, mas há beleza nessa imperfeição. É uma obra que transborda cuidado e comprometimento, seja no escopo técnico, no sistema de evolução ou na trilha que pontua cada vitória. Não é apenas o melhor Digimon Story, é o mais humano.​

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Nota final: 4/5


























Avaliação: 4 de 5.

Acesse o site oficial do jogo.

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Fagner Lopes

CEO Presidente e fundador da Obewise Entertainment Network, escritor, biomédico e amante de jogos eletronicos, mais precisamente DOTA 2. Redator do site e artista na Obewise Radio Network.

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