Quando LEGO Party! foi anunciado, a promessa era clara: trazer uma alternativa ao domínio absoluto de Mario Party no gênero de jogos de festa. A SMG Studios e a Fictions entregam uma experiência divertida e acessível que faz bom uso da marca dos blocos de montar, mas que tropeça em algumas limitações estratégicas e de conteúdo que impedem o jogo de ser verdadeiramente memorável.
O ponto de partida é uma premissa criativa, em que o jogo se apresenta como um programa de auditório temático, com apresentadores carismáticos (Ted Talker e Paige Turner) que comentam cada ação com bom humor e piadas. Essa ambientação é genuinamente divertida e adiciona personalidade à experiência, especialmente quando os apresentadores zoam os perdedores ou questionam as próprias regras do jogo.
No entanto, há uma falha significativa por conta da falta de localização para português, que prejudica bastante o aproveitamento desse humor. As piadas, os comentários e até as explicações de mecânicas perdem muito de seu impacto quando apresentadas em inglês, especialmente para crianças e jogadores causais que dependem de compreender o contexto das brincadeiras.
Jogabilidade com personalidade LEGO
O jogo oferece 60 minigames, uma quantidade respeitável embora menor comparada ao que Mario Party normalmente oferece em cada título. A variedade é interessante: há jogos baseados em ritmo, corrida, cooperação e precisão, com alguns genuinamente inspirados na identidade LEGO, como Perfect Pillars, em que você empilha tijolos sob pressão, ou Finders Keepers, para procurar peças específicas em pilhas. Essas escolhas demonstram criatividade ao explorar a marca.
No entanto, existe um problema consistente: o nível de dificuldade é irregular. Alguns minigames exigem precisão e agilidade extremamente altas, onde a inteligência artificial consegue desempenho surreal mesmo no nível mais fácil, enquanto em outros ela simplesmente falha. Jogos como Snailed It, de traçar linhas com precisão perfeita, e Very Tall Race, de andar de monociclo equilibrista, se tornam praticamente impossíveis para jogadores casuais, enquanto criam situações onde o bot domina completamente.
Arty Smarty é outro exemplo problemático, pois exige conhecimento específico de história da arte para reconhecer obras famosas de artistas clássicos, algo que não conversa com o público-alvo infantil do jogo. Mudar a dificuldade da CPU apenas ajusta o nível de competência geral, sem resolver esses problemas de design.
Os 2v2 Brick Battles adicionam variedade, mas com uma desvantagem crítica: sem uma opção para desabilitar essas batalhas em partidas com menos de quatro jogadores humanos, você fica preso com um bot como companheiro, o que frequentemente condena sua equipe à derrota automática dependendo do minigame.
Charme com profundidade limitada
As quatro Challenge Zones (Pirata, Espaço, Ninjago e Parque Temático) são visualmente encantadores e tematicamente distintos. Cada um oferece uma experiência bem apresentada com cores vibrantes e senso de humor LEGO em cada detalhe. O Parque Temático se destaca como o mais criativo, com seu design em trevo que permite tanto loops centrais quanto desvios para atrações laterais.
A mecânica central é simples e muito acessível. Colete Golden Bricks, comprando com studs em Mr. Gold, para vencer. Simples assim! Antes de cada turno, os minigames determinam a ordem de movimento e quanto cada jogador ganha, criando um sistema onde performance direta tem consequências. Além disso, cada tabuleiro oferece Construction Zones, onde você escolhe estruturas para construir que trazem novos desafios e mecânicas, como navios piratas que atacam na zona Pirata, ou atrações no parque temático.
O problema está na escala, pois os tabuleiros de LEGO Party são aproximadamente um terço do tamanho dos mapas clássicos de Mario Party. Isso torna as partidas mais rápidas, mas remove a sensação de progressão épica que torna memoráveis as partidas mais longas. Além disso, embora os tabuleiros incluam surpresas e construções, eles carecem da profundidade estratégica dos mapas de Mario Party. Não há itens que você pode carregar e usar contra adversários, apenas power-ups que modificam movimento ou teleportam você para espaços específicos. Essa simplificação remove interações diretas e cruéis que definem os momentos mais caóticos e divertidos do gênero.
A falta do caos estratégico
Enquanto Mario Party abraça a imprevisibilidade, com reviravoltas de última hora, itens que permitem ataques diretos e um elemento de sorte que pode destruir planos cuidadosos, LEGO Party” opta por um equilíbrio “justo” que ninguém pediu. Não há estrelas bônus aleatórias no final para virar completamente uma derrota em vitória épica. A remoção dessas mecânicas pode parecer um passo em direção a um jogo mais equilibrado e baseado em habilidade, mas remove justamente o drama que torna os minutos finais de uma partida de Mario Party absolutamente eletrizantes.
O crossplay completo de LEGO Party! entre PC, PlayStation, Xbox e Nintendo Switch é uma vantagem genuína que Mario Party não oferece. Isso democratiza o acesso e permite que amigos em plataformas diferentes compitam juntos, uma funcionalidade revolucionária para o gênero. A customização de minifiguras também é superior, com mais de um bilhão de combinações possíveis.
No entanto, em termos de design de tabuleiro e variedade de conteúdo, Mario Party vence por oferecer mais mapas, mais minigames (na maioria das vezes com melhor qualidade), e uma filosofia de design que prioriza momentos memoráveis em detrimento do perfeito balanceamento.
Nem tudo é AWESOME!
Visualmente, LEGO Party! impressiona por chegar com mais de 450 elementos de minifiguras foram recriados como modelos 3D detalhados com fidelidade excepcional ao material físico. As animações capturam a rigidez característica das peças LEGO enquanto adicionam personalidade através de expressões e movimentos corporais. A iluminação e sombreamento, especialmente em consoles de nova geração, fazem os tijolos parecerem táteis e convincentes.
A trilha sonora carrega 25 temas que cobrem adequadamente cada zona e minigame, criando atmosfera apropriada sem se tornarem irritantes na repetição. No entanto, nenhum deles alcança o status de memorável ou icônico, num contraste total com a trilha de The LEGO Movie, que gerou fenômenos culturais. A narração dos apresentadores, porém, compensa parcialmente essa lacuna, oferecendo humor e carisma que ressaltam bem mais do que a música em si.
Infelizmente LEGO Party! sofre pela simplicidade, com apenas quatro tabuleiros, nenhum modo história, nenhum DLC planejado ou conteúdo adicional anunciado. O sistema de progressão, para desbloquear minifiguras através de níveis, perde força rapidamente e a rejogabilidade depende inteiramente de ter um grupo consistente de amigos dispostos a revisitar as mesmas quatro zonas repetidamente.
LEGO Party! é um jogo perfeitamente adequado que cumpre o mínimo necessário para existir, mas peca ao abraçar segurança demais. A falta de caos estratégico, a profundidade limitada dos tabuleiros, a quantidade modesta de conteúdo e a ausência de localização em português criam uma experiência que é agradável mas raramente memorável. O trabalho da SMG Studio não arrisca em ser excepcional, preferindo seguir fórmulas batidas sem adicionar camadas de criatividade que poderiam elevá-lo de uma cópia bem-intencionada para algo genuinamente único.
Para qualquer um buscando a melhor experiência de jogo de festa disponível, Mario Party ainda reina supremo. LEGO Party! permanece como uma alternativa competente e acessível, mas que não consegue escapar da sombra do seu concorrente mais estabelecido, apesar de suas boas intenções e execução técnica respeitável.
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Nota final: 2/5
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